Relações Precoces
À medida que vou crescendo, dia a dia
Eu sei que tu estás atenta à minha caminhada
Reparas em tudo que eu digo e faço
O olhar de amor que eu guardo para ti
A maneira divertida como eu “canto” na cama
A forma engraçada como eu inclino a cabeça
O meu temperamento que me faz se EU!!!
A minha personalidade “especial”.
Mary Anne Doan-Sampo
A espécie humana nasce desprotegida, frágil e com grande necessidade de protecção por parte dos progenitores. Deste modo, garante o alimento que não é capaz de adquirir autonomamente, e a sensação de protecção e afecto de que necessita. A convivência social ajuda-nos a manter saudáveis, mental e fisicamente. A necessidade de contacto com pessoas é fundamental para nos construirmos como seres humanos, já que a nossa humanidade não é inata mas sim construída através da interacção com os outros.
A personalidade do adulto é construída a partir de ligações precoces e socioafectivas da criança, vínculos que repousam sobre necessidades biológicas. O desenvolvimento físico, cognitivo e social são diferentes aspectos em que todas as nossas competências aumentam na jornada humana, do nascimento á maturidade. A nível físico, crescemos em tamanho e força, o que nos permite movimentar livremente no nosso meio. A nível cognitivo, aprendemos a habitar o mundo dos conceitos e ideias. O desenvolvimento social refere-se ao crescendo de competências e habilidades, que capacitam o indivíduo para estabelecer relações afectivas e para interagir com o mundo envolvente.
Durante os primeiros meses de vida, o mundo social do bebé está limitado a uma única pessoa, geralmente a mãe. Com o passar do tempo, os horizontes sociais tornam-se mais vastos, incluindo a família, creche e vizinhos.
Ver um bebé sorrir quando vê a sua mãe, é um sinal de que essa criança está a crescer fisicamente e a aperfeiçoar as suas capacidades de percepção. O desenvolvimento social inicia-se com o primeiro vínculo humano: o do bebe à pessoa que cuida dele, geralmente a mãe. Este laço (vinculação) é considerado a base ou alicerce de todas as relações sociais para o resto da vida. O bebé quer estar perto da mãe e, quando não está bem fica confortado com a sua imagem, a sua voz e o seu contacto. Este aspecto é comum ao de outras espécies, como por exemplo os macacos, que se agarram ao corpo das mães e os pintainhos, que seguem a galinha.
Assim, por vinculação entende-se a ligação emocional positiva entre a criança e um pessoa em particular, que consiste na mais importante forma de desenvolvimento social, durante a infância. Por outras palavras, a relação de vinculação é uma construção progressiva: a aptidão inata é modelada no decorrer da interacção com o meio social.
Em suma, as pessoas que nos envolvem nunca se apresentam neutras para nós. Não só as crianças sofrem com a falta do outro, mas também os adultos. Ficar sozinho no mundo, sem necessidade dos outros para conviver ou sobreviver, é para todos nós uma ideia assustadora.
“ O ser humano isolado ou é um deus ou um animal, mas não é, verdadeiramente humano.”
Aristóteles (Século IV a.C.)
Relação mãe-bebé
A relação mãe-bebé tem um papel fundamental na socialização. Esta relação, permite à criança adaptar-se ao meio envolvente e aos outros. A interacção mãe-bebé, leva a que a criança aprenda a atribuir significados ao comportamento dos outros.
Assim, a qualidade desta relação precoce terá grande influência no desenvolvimento futuro da criança: na sua personalidade e no modo de se relacionar com os outros e de encarar o mundo.
A interacção mãe-bebé leva a que a criança aprenda a atribuir significados ao comportamento dos outros. As crianças nascem com reflexos que contribuem para a sua sobrevivência e adaptação à vida. O choro também faz parte do equipamento natural do bebé. É o esquema que serve para dizer à mãe, ou à pessoa que cuida da criança, que tem fome ou dores. É assim um meio eficaz de comunicar, bem como o sorriso e expressões faciais.
Reflexos de Alimentação:
Reflexo de procura;
Reflexo de sucção;
Reflexo de deglutição.
Reflexos de protecção à alimentação:
Reflexo de vómito;
Reflexo de mordida.
Envolvimento do pai
A presença do pai, é fundamental para desenvolvimento sócio-emocional da criança.
Durante muitas décadas, os pais mantiveram-se na sombra, por trás da mãe. Actualmente, tem havido um aumento da sua importância como prestador de cuidados à criança. Na generalidade, os pais passam menos tempo com as crianças que as mães e vêem a actividade entre pais e crianças como uma opção, em vez de uma necessidade ou dever. Contudo, a intensidade da vinculação entre pais e crianças pode ser tão forte como entre mães e crianças.
Segundo diversos estudos, concluiu-se que "as crianças que têm um pai presente, com o qual coabitam na mesma casa, têm um nível de auto-estima superior àquelas que têm um pai ausente, com o qual não vivem"e que, "a figura do pai tem uma grande importância na vinculação com o progenitor e a sua imagem na família, enquanto um ser um pouco esquecido, começa a ser encarada de outra forma".
Diferenças na interacção com o pai e a mãe
As circunstâncias sociais e económicas explicam este facto. Nas maioria das culturas o pai é o “ganha pão” da família e a mãe a responsável pela criação dos filhos. Os pais condensam os seus cuidados em episódios concentrados de intensa brincadeira. Para além disso, as suas brincadeiras são mais físicas e vigorosas (ex. lançar os bebés ao ar) ao contrário das mães, que brincam de maneira mais calma (ex. ler histórias). Em consequência, o bebé procura o pai para brincadeiras mais activas, e a mãe para obter carinho, conforto e segurança.
Independentemente destas diferenças de comportamentos, cada um deles desempenha um relevante papel no desenvolvimento da criança. Além disso, a quantidade de tempo que um adulto passa coma criança é menos importante que a qualidade, visto que a relação deve ser contínua e a figura de vinculação deve ser acessíveis e disponíveis, adaptando-se ao ritmo da criança.
Deste modo, pode concluir-se que a relação de vinculação é uma construção progressiva: a aptidão inata é modelada no processo de interacção com o meio social.