Desenvolvimento da personalidade
Havighurst (1953), um dos mais notáveis psicólogos do desenvolvimento humano, insatisfeito com os modelos e teorias do desenvolvimento prevalentes nos anos quarentas e cinqüentas do século XX, realizou só ou em colaboração com autores de países diversos uma série de pesquisas sobre o que denominou o ciclo de vida. O ciclo de vida (life span) começa com a concepção e termina com a morte. Ele considerava que as propostas de desenvolvimento então vigentes ou eram predominantemente alicerçadas nas mudanças biológicas ou se centravam em aspectos psicológicos específicos (cognitivos, emocionais, sexuais e morais), não enfocando, com base em pesquisas sólidas, o desenvolvimento humano como um todo. Além disso, para os modelos dominantes a tendência era considerar que o desenvolvimento praticamente se completava na adolescência (às vezes antes dos quinze anos) ou começo da juventude. Os dados de pesquisas não confirmavam essas restrições e mostravam a insuficiência desses olhares. Além disso, as propostas tendiam a ignorar ou a minimizar o contexto cultural e histórico em que ocorria o desenvolvimento humano.
Tarefas da meia idade:
- Atingir responsabilidade cívica e social adulta
- Estabelecer e manter um padrão social económico de vida
- Desenvolver actividades adultas de lazer
- Ajudar as crianças adolescentes a tornarem-se adultos responsáveis e felizes
- Relacionar-se com o seu conjugue como pessoa Aceitar e ajustar-se às mudanças fisiológicas da meia idade Ajustar-se aos pais que envelhevem
A personalidade é o produto de um processo de construção pessoal que decorre ao longo de toda a vida de um indivíduo. Daí que a personalidade não se possa encarar como imutável, mas como resultado de um processo activo e dinâmico. A personalidade acompanha e reflecte a maturação fisiológica e psicológica do indivíduo, que está sujeito às influências do meio e às influências das experiências pessoais, resulta da interacção e da influência de vários factores (biológicos, ambientais e significados atribuídos pelo indivíduo à sua experiência).
Personalidade – Pessoa – Carácter – Temperamento
- A personalidade permite distinguir no homem que actua aquilo que faz com que seja um homem e o que faz com que seja aquele homem.
- A pessoa designa um indivíduo concreto. A personalidade distingue-se da pessoa ao designar o conjunto de esquemas que organizam o comportamento do indivíduo. ~
- A personalidade é muitas vezes confundida com o carácter. Este designa as componentes instintivo-afectivas da personalidade, enquanto que a própria personalidade engloba não só características de carácter (agressividade, jovialidade) mas também aptidões cognitivas (imaginação e inteligência) e físicas.
- O temperamento remete prioritariamente para as componentes fisiológicas hereditárias. Portanto, não é mais que um aspecto da personalidade.
A personalidade resulta de interacção de diversos factores tais como:
Hereditariedade – o património genético influencia algumas características da personalidade. Efectivamente a constituição física, o funcionamento do sistema nervoso e do sistema endócrino variam de indivíduo para indivíduo, afectando o modo como a sua personalidade se desenvolverá.
O sexo, a constituição física, o funcionamento do sistema nervoso e endócrino influenciam, directa ou indirectamente, a forma como o indivíduo se relaciona com o mundo e com os outros e a forma como se vê a si próprio.
Meio social – este factor desempenha um papel determinante na construção da personalidade. É através do processo de socialização que decorre no seio da família, da escola, do grupo de pares e da sociedade em geral, a que o indivíduo pertence, que os modos de pensar, de ser e actuar se formam. A personalidade desenvolve-se em permanente interacção com o meio e deste facto resulta que na mesma sociedade os indivíduos apresentem um conjunto de características relativamente homogéneas na forma de agir e de se comportar.
A personalidade constrói-se e desenvolve-se num processo interactivo com o meio social, ao longo do processo de socialização os indivíduos integram, na sua personalidade, as formas de ser, de pensar e de agir da sociedade em que vivem.
Experiências pessoais – as experiências vividas pelo sujeito, concretamente as que ocorrem durante a infância e a adolescência, têm uma grande influência na formação da personalidade de um indivíduo. Outros acontecimentos marcantes da vida (que os psicólogos denominam de ocorrências e acasos), mesmo de uma pessoa já adulta, como encontros amorosos, separações, ser pai/mãe, ficar desempregado, podem também marcar aspectos da sua personalidade. De notar que o modo como estas experiências são vividas e encaradas são também, reflexo de uma personalidade.
As experiências precoces e as vividas durante a adolescência têm maior influência na personalidade, os significados atribuídos pelo indivíduo às suas experiências condicionam a forma como estas são integradas na sua personalidade.
Teoria Psicanalítica da Personalidade
Segundo Freud, a personalidade está intimamente ligada com o desenvolvimento da sexualidade construindo-se fundamentalmente nos primeiros anos de vida. Afirma assim que a personalidade se desenvolve segundo uma sequência de estádio psicossexuais, correspondendo a cada um uma zona erógena específica. Cada um dos estádios é atravessado por um conflito psicossexual que resulta da necessidade da satisfação das pulsões em confronto com o que é socialmente exigido. A forma como os conflitos são ultrapassados bem como o tipo de experiências emocionais influenciam o desenvolvimento da personalidade.
A psicanálise é um corpo teórico explicativo da estrutura psíquica, da vida mental e afectiva. E um processo terapêutico das perturbações da personalidade. Esta teoria vai centrar a explicação do comportamento em factores em factores energéticos e internos à própria pessoa, apresentando assim uma perspectiva intrapsíquica do funcionamento humano. A personalidade é orientada por forças pulsionais, marcadas pelo inconsciente, e por uma grande importância atribuída à infância e às relações de objecto. A experiência clínica de Freud levou-o a valorizar os primeiros anos de vida e a compreender como o acesso ao mundo inconsciente (das pulsões, desejos, conteúdos reprimidos) explica as perturbações neuróticas.
A personalidade, na perspectiva freudiana, é fortemente determinada pelos impulsos sexuais e centrada no desenvolvimento psicossexual, que se faz através de vários estádios, nos quais há a prevalência de diferentes zonas erógenas, ou seja, partes do corpo cuja estimulação pode produzir uma excitação sexual. (boca e lábios no estádio oral; região anal no estádio anal; órgãos sexuais no estádio fálico; no estádio de latência a criança esquece a sexualidade anterior, havendo uma diminuição do interesse libidinal. Na puberdade – estádio genital – a sexualidade reaparece, focalizada nas zonas erógenas genitais, procurando a satisfação nas relações com o outro). Os entraves à satisfação pulsional podem levar a uma fixação, isto é, a que uma parte da energia pulsional fique bloqueada em determinado estádio de desenvolvimento. As características da personalidade de cada indivíduo resultariam de características inatas, das relações de objecto que estabelece, das formas de resolução de conflitos intrapsíquicos e dos mecanismos de defesa que privilegiou.